Por Augusto Ibáñez

Como podemos ver na tabela, as competências mais valorizadas pelos educadores e educadoras são a orientação à ação; a capacidade de investigar e compreender a realidade; a competência intercultural; a competência cívica global e local (uma nova dimensão da educação cívica), e uma educação adequada do caráter em torno das “virtudes” exigidas pela nova realidade, ou seja, conhecimentos práticos entre os quais Victoria Camps destaca o respeito mútuo pela dignidade do outro; a responsabilidade para assumir e sermos responsáveis pelo que fazemos, e a solidariedade, uma virtude que se conecta com o desafio de educar em fraternidade, um elemento central da recente encíclica Fratelli tutti.
Diante da pressão excludente de algumas cidadanias nacionais ou locais, estamos comprometidos com esta abordagem global, porque o que mais importa é pertencer à espécie humana: o que nos une é mais forte do que o que nos separa.
Sem dúvida, trata-se de um perfil ambicioso. Como deveria ser a educação para a CG que permita desenvolvê-lo? É indiscutível que o primeiro componente que uma educação global deve abordar é o cultivo do conhecimento e das competências globais. Isto é o que mede o último relatório PISA, apresentado no final de outubro, que analisa a capacidade de examinar eventos locais e globais, entender outros pontos de vista, interagir com outras culturas e ser proativo na melhoria do bem-estar coletivo e do desenvolvimento sustentável. É muito significativo que a competência global seja um dos focos das novas provas PISA, juntamente com matemática, ciências e linguagem.
A competência global é um componente necessário, mas não é suficiente. É necessário incorporar um segundo componente-chave: a cultura do cuidado. Tem a ver com a ecologia integral, com o cuidado das pessoas e do planeta como forma de compensar nossa fragilidade e a do sistema. Aprender a cuidar é aprender a fazer interações onde todos ganham, em todos os níveis. Dependemos do cuidado dos outros. É necessário, portanto, construir em cada aluno e cada aluna uma ética de cuidado de si mesmo, da humanidade e da natureza.
E o terceiro componente é a cultura relacional, que reafirma o protagonismo necessário da escola nestes tempos turbulentos. A escola é um grande sistema relacional, sustentado por uma densa rede de vínculos que nem a educação a distância nem homeschooling (escolaridade em casa) podem substituir. É verdade que não é apenas a escola que educa, mas é a melhor instituição que temos para assegurar a educação como um bem comum universal. Esta abordagem de educação global harmonizada sob a ética do cuidado e da cultura relacional é o nosso compromisso.
E como colocar tudo isso em prática? Nós, humanos, não mudamos nosso comportamento porque somos convencidos, nem porque estudamos uma nova matéria, mas através da prática, através da aquisição de hábitos e rotinas. A cidadania global não deve, portanto, ser uma matéria nova. É um conhecimento prático que não é estudado, é praticado! A cidadania global não pode ser ensinada e nem aprendida sem exercê-la. Ela é construída através de uma pedagogia de participação, e de vivência de certas atitudes e valores que percorrem de forma transversal e sistêmica todo o currículo.
Para encontrar o caminho, a melhor coisa a fazer é começar já. Experimentar, avançar todas e todos juntos, conscientes do poder de cada passo, por menor que seja. Como dizia Galeano, parafraseando Juan Bautista de la Salle: “Muitas pessoas pequenas, em lugares pequenos, fazendo pequenas coisas, podem mudar o mundo”. Façamos isso!
-
Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /var/www/html/wp-content/themes/eduforicos/pagina_detail_list.php on line 147