Comunidades de aprendizagem: Ações educacionais de sucesso para a inclusão social

08 março 2021

Nos últimos tempos, intensificou-se a preocupação global em melhorar as oportunidades e os resultados educacionais para toda a população e em fortalecer a inclusão social, como refletido no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 4 (SDG 4-Educação 2030), que se refere à necessidade de garantir uma educação inclusiva e equitativa de qualidade e promover oportunidades de aprendizado ao longo da vida para todos (Unesco, 2015).

Além disso, a situação decorrente da crise global de saúde causada pela COVID-19 (Unesco, 2020) e suas consequências nos campos social e educacional, entre outros, pôs o foco das atenções sobre as novas lacunas que afetam grandes setores da população, como a do acesso à educação de qualidade e das tecnologias da informação e comunicação, que passaram a ser consideradas aspectos críticos para a inclusão social e a participação na sociedade atual.

Diante do desafio de melhorar as oportunidades e resultados educacionais do conjunto da população como forma de prevenir a exclusão social, o projeto Comunidades de Aprendizagem, promovido pela Comunidade de Pesquisadores CREA da Universidade de Barcelona (CREA, 2020), vem contribuindo há mais de vinte e cinco anos para a transformação de centros educacionais em várias partes do mundo (Comunidades de Aprendizaje, 2020). O projeto busca o duplo objetivo de melhorar os resultados educacionais dos alunos e aumentar a coesão social na escola e na comunidade. Para isso, as instituições educacionais abrem-se para a participação das famílias e demais agentes do ambiente, tanto nos processos decisórios relacionados ao funcionamento escolar quanto nas próprias atividades de aprendizagem. Essa participação é pautada pela concepção dialógica da aprendizagem (Flecha, 1997), que enfatiza o papel do diálogo e das interações com toda a comunidade educacional na melhoria da aprendizagem dos alunos.

Desde as suas origens no final dos anos 1970, no bairro de La Verneda-Sant Martí, em Barcelona, no contexto da educação democrática de adultos (Sánchez, 1999), este projeto educacional alcançou inúmeros centros na Espanha, e já se materializou em outros países europeus, bem como em vários países da América Latina (Díez-Palomar, et al., 2020).

As escolas que tomam a decisão de tornarem-se Comunidades de Aprendizagem seguem uma série de passos que implicam a participação ativa de toda a comunidade educacional na definição do projeto de ensino a ser realizado:

  • Sensibilização: Formação intensiva sobre as bases científicas do projeto, aberta a toda a comunidade educacional, que permite uma análise das transformações necessárias para avançar no sentido de melhorar a resposta educacional dos estudantes.
  • Tomada de decisão: Implantação de um processo participativo que, partindo do diálogo, permita recolher as vozes de todos os atores da comunidade educacional.
  • Sonho: Processo que almeja “sonhar” com o tipo de escola a ser alcançado, que conta com a participação dos vários agentes de ensino (professores, estudantes, famílias, outros atores sociais).
  • Seleção de prioridades: Tradução dos sonhos da comunidade em prioridades de ação para realizar a transformação escola.
  • Planejamento: Definição dos passos a seguir para avançar na concretização dos sonhos da comunidade, por meio de comissões mistas (compostas por diferentes agentes de ensino), responsáveis por colocar os recursos e esforços da instituição de ensino a serviço das diversas prioridades.

Atualmente, o projeto Comunidades de Aprendizagem é uma realidade consolidada na Espanha e em alguns países da Europa e América Latina, e constitui um exemplo das possibilidades da educação para gerar impacto social e contribuir para o desafio de possibilitar uma maior inclusão social para toda a cidadania.

Este processo busca a implementação de um conjunto de Ações Educacionais de Sucesso, descritas e analisadas pelo projeto de pesquisa do VI Programa-Quadro INCLUD-ED (Flecha, 2015), que procuram melhorar os resultados de ensino dos estudantes e a coesão social na escola e na comunidade em que esta está inserida. Essas atuações são:

  1. Grupos interativos: Forma de agrupamento inclusivo que melhora a aprendizagem do estudante, enquanto exerce um efeito positivo sobre as relações interpessoais e a convivência em sala de aula.
  2. Discussões dialógicas: Atuação destinada a promover a construção coletiva de significado e conhecimento entre os estudantes, partindo do diálogo em torno de obras da literatura universal e de outras disciplinas artístico-culturais.
  3. Formação de familiares: Oferta educacional e de formação direcionada às famílias e outros membros da comunidade, de acordo com as suas necessidades, e que permite que estas melhorarem as suas competências para ajudar seus filhos nos deveres de casa e, assim, apoiá-los em seu progresso escolar, ao mesmo tempo em aperfeiçoa suas competências voltadas para a empregabilidade.
  4. Participação educacional da comunidade: Participação direta das famílias e da comunidade nos espaços e processos de aprendizado que ocorrem na escola, incluindo a sala de aula, e nas decisões que dizem respeito à educação estudantil.
  5. Modelo dialógico de prevenção e solução de conflitos: Modelo de gestão de conflitos direcionado a envolver toda a comunidade educacional na definição de um contexto de convivência aceito e compartilhado por todos.
  6. Formação dialógica docente: Formação e atualização científica de professores nas bases teóricas e práticas que sustentam Ações Educacionais de Sucesso, por meio de espaços de intercâmbio, nos quais os profissionais possam discutir os últimos avanços pedagógicos e as formas de incorporar esses conhecimentos à sua prática e ensino, a fim de melhorar os resultados de seus estudantes.

Os resultados e conclusões do INCLUD-ED (que foram incluídos em diversas recomendações europeias sobre como superar o fracasso escolar e as desigualdades educacionais) demostraram que as Ações Educacionais de Sucesso são ferramentas úteis para melhorar os processos e resultados de ensino e promover a coesão da sociedade em contextos muito diferentes. Seu direcionamento para a melhoria educacional, independentemente das características do contexto, faz com que essas ações possam ser recriadas em instituições de ensino, comunidades e territórios muito diversos, a fim de melhorar a inclusão social dos estudantes, de suas famílias e comunidades.

Autoras:

  • Pilar Álvarez Cifuentes, Universidad Pontificia de Comillas.
  • Carme García Yeste, Universitat Rovira i Virgili.
  • Regina Gairal Casadó, Universitat Rovira i Virgili.

Referências