Dez dicas para destacar o papel dos colegas na educação inclusiva

15 agosto 2018

Ser competente para ajustar a resposta educacional à diversidade dos alunos é, provavelmente, o principal desafio que os professores enfrentam na sala de aula. O objetivo é que todos os alunos aprendam a conhecer, a conviver e a ser, desenvolvendo ao máximo as suas possibilidades em contextos educativos e sociais inclusivos.

Precisamos ser conscientes de que o sucesso da inclusão e da atenção à diversidade depende, em grande medida, do seu grupo de iguais.

Os fatores que influenciam o alcance dessas habilidades e desses objetivos são variados. Alguns estão relacionados com a formação do docente, suas crenças e atitudes; outros estão relacionados com as condições de ensino: número de alunos em sala de aula, recursos disponíveis, projeto educacional, amplitude da diversidade dos alunos aos que é necessário ensinar, e demandas educacionais específicas, exigência curricular e pressões da avaliação externa; e outros finalmente apontam para a dinâmica da sociedade, a participação das famílias e suas atitudes.

Em todos esses fatores existe uma dimensão que poderíamos denominar transversal: as crenças e as atitudes, pois estão presentes na sociedade e nos grupos humanos, nas famílias, nos professores e nos próprios alunos, existindo uma contínua interação entre todos esses níveis. As atitudes e as crenças dos professores sobre os problemas de aprendizagem e de conduta dos alunos são traduzidas em uma forma determinada de ensinar e de avaliar, mas não são alheias aos modelos e exigências que a sociedade apresenta para o sistema educacional e para os próprios professores. Além disso, as atitudes e opiniões das famílias serão fundamentais para facilitar ou dificultar a inclusão. Agora, me proponho destacar o papel que cumprem os colegas, cujas atitudes e condutas estão relacionadas, como não poderia ser de outra maneira, com aquelas que seus professores e suas famílias desenvolvem.

São os iguais que possibilitam, diretamente, o acesso da criança às atividades sociais que permitem e favorecem a inclusão social.

É preciso ser consciente de que o sucesso da inclusão e da atenção à diversidade depende, em grande medida, do seu grupo de iguais. As atitudes negativas dos colegas, ou melhor (em muitas ocasiões), a ausência de atitudes positivas e de comportamentos pró-ativos pode ser um obstáculo tão importante quanto as barreiras físicas, o que limita a participação plena de alguns alunos com dificuldades especiais nas escolas e nas comunidades.

São os iguais que possibilitam, diretamente, o acesso da criança às atividades sociais (brincar, compartilhar, interagir) que permitem e favorecem a inclusão social. A interação positiva – que implica condutas de cooperação, aceitação, aproximação e colaboração – com os iguais constitui um componente decisivo na aprendizagem de condutas sociais e, portanto, no desenvolvimento pessoal e social.

Uma das tarefas dos docentes é favorecer a mudança de atitudes dos alunos para o reconhecimento e a valorização da diversidade, o que implica, ao mesmo tempo, que eles mesmos manifestem uma atitude positiva. Para isso, é necessário facilitar informação aos alunos, romper estereótipos e estimular o compartilhamento de experiências, atividades e relações com os colegas com dificuldades. O objetivo não é só valorizar o respeito teórico da diversidade, isto é, ficar na dimensão cognitiva da atitude, mas sim chegar também até as dimensões emocionais e de conduta, o que é mais difícil e exigente. Não é suficiente que os nossos alunos compreendam o que é a diversidade. Eles precisam atuar de acordo na vida diária.

As dez dicas que sugerimos para favorecer essa dinâmica são:

  1. Dar informação variada sobre questões relacionadas com a diversidade: conhecer experiências bibliográficas de pessoas famosas ou célebres com alguma dificuldade; assistir um documentário ou filme sobre estes temas e comentar em aula.
  2. Favorecer o treinamento em habilidades interpessoais que proporcione destrezas para atuar e se inter-relacionar de forma efetiva com todos os colegas.
  3. Organizar equipes de trabalho cooperativo para o desenvolvimento de diferentes atividades em sala de aula,agrupando alunos heterogêneos com diferentes níveis de competência curricular, favorecendo o contato e as relações sociais entre todos e treinando as atitudes de companheirismo, empatia e ajuda.
  4. Embora o desenvolvimento de habilidades sociais seja muito importante para todos os alunos, é necessário estar muito atento aos alunos que apresentam mais dificuldades.Em algumas ocasiões, será preciso colocar em marcha programas específicos de habilidades sociais para ensinar alguns alunos como desenvolver estratégias positivas para facilitar a interação com o grupo de iguais.
  5. Incentivar que todos os alunos tenham a oportunidade de manter relações de amizade,pois estabelecer relações positivas entre iguais não é o mesmo que ter amigos. Os amigos estão entre os fatores protetores mais importantes, pois favorecem a confiança, a segurança e a intimidade, o que permite construir uma autoestima positiva.
  6. Realizar atividades de simulação ou role-playingsobre diferentes situações,por meio das quais os alunos, a partir da observação, possam modificar e realizar uma mudança positiva de atitudes.
  7. Desenvolver programas de tutoria nos quais as atitudes individuais e grupais com respeito aos colegas sejam analisadase que proprocionem uma reflexão do grupo sobre diferentes propostas de melhoria.
  8. Organizar experiências (saídas, jogos, excursões, etc.) em que todos os alunos trabalhem ou interajam juntos.
  9. Sensibilizar as famíliascom o objetivo de que promovam essas atitudes de acolhida a todos os colegas fora do centro educacional (festas de aniversário, lazer, brincar no parque, esportes, etc.).
  10. Garantir o desenvolvimento de atividades vinculadas ao teatro, à música, ao canto e ao esporte, já que são excelentes estratégias para conseguir a participação de todos os alunos em uma atividade comum, na qual se observem as capacidades dos alunos com mais dificuldade de aprendizagem.

Estas sugestões, que são lidas facilmente, costumam ser muito complicadas de serem colocadas em prática na sala de aula, pois os alunos sem dificuldades às vezes se sentem mais cômodos no seu trabalho e nas suas relações sociais com aqueles que não possuem problemas. A incorporação de alunos com dificuldades na dinâmica de grupos de trabalho, principalmente se devem conseguir determinados objetivos, pode acabar na invisibilidade desses alunos, colocados de lado para que não “atrapalhem” a dinâmica do grupo. O mesmo pode suceder nas atividades sociais, sobretudo a partir da adolescência. Por isso, é necessário avançar com prudência e combinar diferentes estratégias mais simples –informação, treinamentos em habilidades sociais, atividades fora da escola, teatro e música, por exemplo–, que preparem o terreno para a organização de grupos cooperativos de aprendizagem ou de relações sociais baseadas na valorização mútua e na amizade.

Laura Hernández é Doutora em Educação pela Universidad Complutense Madrid. Atualmente, trabalha como orientadora especializada em atenção à diversidade, educação infantil e neuropsicologia. É diretora do curso “Atenção à diversidade”, organizado pela Fundação SM e INTEA a partir da Universidad Pontificia de Salamanca.