Estamos preparados para uma educação inclusiva?

28 maio 2019

As emoções estão imersas em nossas salas de aula e afetam nossos pensamentos, nossa fisiologia e nossa conduta. Hoje, sabemos que grande parte do cérebro é dedicada às relações sociais, o que confirma que as relações são o núcleo da nossa vida, e que a nossa capacidade de tomar decisões melhora quando nos sentimos motivados, e nosso cérebro emocional e primitivo está calmo, regulando nossas emoções (ver O erro de Descartes, de António Damásio,).

O educador deste século está comprometido com as necessidades da criança, e não apenas com seu desenvolvimento cognitivo, assim como Jaques Delors (1996) que, em seu Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século 21, defende a educação a partir de quatro pilares:

  1. Aprender a conhecer
  2. Aprender a fazer
  3. Aprender a ser
  4. Aprender a conviver

A necessidade de ensinar competências socioemocionais a uma sociedade diversa em todos os níveis — funcional, cultural, racial, sexual, etc. — faz com que a chave para uma sociedade inclusiva comece com a educação centrada na pessoa.

A importância de formar adolescentes em competências emocionais

Inúmeros estudos afirmam que quando o professor tem uma relação afetiva e empática com a criança, os efeitos repercutem no próprio professor, que fica satisfeito com seu trabalho, e no aluno, que se sente seguro e confiante, o que, por sua vez, o anima e estimula em seu desejo de aprender e o faz progredir em todas as áreas: pessoal, social e educacional.

É claro que, para um professor, nem sempre é fácil adotar uma atitude emocional positiva perante certos comportamentos. Somam-se a isso os momentos em que cada professor se encontra pessoalmente e a forma como ele administra isso à medida que as interações vão ocorrendo em sala de aula.

É possível treinar essas habilidades? A resposta é sim. Elas ajudarão os professores a olhar para as qualidades de seus alunos pelo lado criativo e administrar o estresse do equilíbrio entre os conteúdos, as relações entre seus alunos e alunas na sala de aula, a atenção às necessidades especiais e pessoais de uma sala de aula inclusiva e o relacionamento com as famílias. Visto dessa maneira, com tantos aspectos a administrar, pode parecer uma tarefa difícil… Mas colocando em prática exercícios de inteligência emocional é possível melhorar a relação com o trabalho. E, obviamente, melhorar nossas vidas.

Uma educação baseada em competências emocionais

Pensemos que a criança imita o adulto. Quando a criança tem como referência um professor empático, ainda que ele precise interromper a aula para resolver uma questão comportamental de um de seus alunos que não responde, se levanta ou fala sem parar, os demais alunos e alunas compreendem o efeito da empatia quando ele diz: “Eu te vejo, eu te escuto… e acho que você não está prestando atenção na aula. Como você se sente?” Essa quebra de padrão pode criar um novo relacionamento muito interessante entre o aluno/aluna e seu comportamento futuro. Enquanto isso, estamos facilitando uma modelagem entre os próprios alunos sobre como se relacionar para evitar rótulos entre certos colegas e um modo mais empático de lidar com comportamentos indesejáveis.

Quando um adulto conversa sobre emoções com uma criança desde sua infância, ele a encoraja a identificar e compreender suas próprias emoções e as dos outros.

Incluir a família

A família é o primeiro grupo de socialização, a partir do qual a criança explora sua realidade, experimenta a qualidade de suas interações e se desenvolve a partir do desenvolvimento de seu autoconceito e sua autoestima.

A partir da figura de referência no cuidado da criança em seus primeiros anos de vida, gera-se o tipo de apego que o ajudará a se expressar com maior ou menor segurança no mundo e a estabelecer suas futuras relações e redes de apoio durante a infância e a idade adulta.

Conhecer as famílias é conhecer melhor os alunos e criar uma relação de apoio e confiança entre familiares e professores.

Numerosos estudos concluem que quando a família se sente parte da educação de seus filhos, próxima do centro educacional onde estudam, a criança se sente mais comprometida e confiante em tudo aquilo que empreende.

É importante facilitar, com criatividade e gentileza, espaços de interação que permitam a troca de informações valiosas sobre cada criança.

A relação com o aluno é aprendida a partir da atenção às diferenças

Um clima de confiança e respeito permite trocas entre professores e alunos mais eficazes do que uma aula magistral.

O professor mantém o interesse da criança, motivando-a, confiando-lhe desafios alcançáveis, levando-a a perguntar, escutando-a… A motivação e o sucesso dos alunos estão relacionados à percepção de suas próprias habilidades.

E, por outro lado, quando o professor usa seus próprios recursos para criar um vínculo, esse relacionamento positivo indicará o caminho da mudança em direção ao relacionamento que se pretende alcançar.

Em uma aula inclusiva, as crianças podem encontrar-se em situações de:

  • Frustração.
  • Diversidade.
  • Escuta e observação, e conhecimento do que é diferente.
  • Cooperação.
  • Vivência de diferentes experiências no cotidiano.

E você poderá experimentar o sentir-se parte de toda uma realidade complexa e plural, participante de atividades e aprendizagens; será capaz de adaptar-se a normas e a diferentes experiências de convivência, evitando situações de violência.

Raquel de Diego é assistente social, coach familiar e professora de educação emocional em centros educacionais. Ela é a autora do blog Conciliafam, voltado para o aconselhamento de famílias.