TIC na educação – Algumas questões chave

21 abril 2021
Projeto para o uso de TIC na sala de aula.

Por Pedro Jara, Escuelas Pías San Fernando-Pozuelo (Madri, Espanha).

As TIC aplicadas à educação devem formar um ecossistema integrado, seguro, amigável, eficaz e aberto que permita uma adequada gestão de documentos e da comunicação entre alunos, professores e famílias da escola. Tal entorno deve favorecer, permitir e privilegiar o ciclo de vida do processo de ensino-aprendizagem em todas as suas facetas: Comunicação plena, imediata e multidirecional, exposição de conteúdos, gestão de tarefas, aprendizado colaborativo e por projetos e avaliação formativa. Além disso, deve ser um ambiente compartilhado também pelo trabalho docente e de backoffice dos próprios professores.

Abordaremos a seguir alguns dos aspectos que, sem dúvida, constituíram os aspectos principais do nosso projeto.

1. Gênese do projeto a partir do Projeto Pedagógico da Escola.

A concepção do projeto parte da necessidade de dar uma resposta para as seguintes perguntas:

  • Como ativar nossos alunos de modo que em classe sejam mais protagonistas de seu aprendizagem, fomentando o aprender-fazendo?
  • Como incentivar de uma forma real a aprendizagem colaborativa, base do nosso projeto pedagógico?
  • Como favorecer a aprendizagem baseada em projetos?
  • Como melhorar a competência digital dos alunos e dos docentes?
  • Como alcançar as atividades mais elevadas da pirâmide de Edgar Dale, desenvolvendo a criatividade, a elaboração própria, o espírito crítico e a autonomia no manejo da informação?
  • Como melhorar a comunicação entre alunos e entre professores e alunos, não apenas no ambiente de sala de aula, mas também fora dela, quando os professores e alunos estão em casa?
  • Como resgatar a beleza que reside no conhecimento como principal motivador dos alunos, permitindo o uso de simuladores e ferramentas para apresentar essa beleza de forma evidente diante dos alunos?

O projeto deveria favorecer que o aluno deixasse de ser um mero repositório de informação despejada pelo docente (que ficava estacionada até as vésperas da prova) e que protagonizasse sua própria aprendizagem com a condução permanente do docente, cujo trabalho de colaboração no processo de ensino-aprendizagem era essencial.

2. Sistema aberto

O ambiente de trabalho deve ser aberto e não cativo de nenhuma entidade ou logo específico. Graças a isso poderemos conseguir a integração com sistemas de terceiros em todos os níveis: conteúdos, aplicações, LMS, etc.

3. Escolha de um ambiente de trabalho conhecido e usado pelos professores

Entre os diferentes ecossistemas ou ambientes de trabalho, como podemos ver, não falamos mais do dispositivo, mas sim do ambiente de trabalho, escolhendo aquele que já usávamos na escola para as tarefas cotidianas, tanto docentes quanto administrativas e de serviços.

Graças a isso o ambiente de trabalho com os alunos não caía de repente (como se fosse um meteoro) em nossa escola. Era um ambiente familiar no qual nos sentíamos confortáveis e seguros.

Desta forma, grande parte do trabalho colaborativo que tentávamos promover e executar com nossos alunos já estava sendo desenvolvido em nossas atividades cotidianas. O que era bom e eficaz para nós (por exemplo o ambiente de trabalho com documentos compartilhados), também seria para eles. Além disso, surgiam sinergias em diferentes aspectos, como políticas de segurança no acesso à informação, uso de aplicativos, etc.

4. O fator humano A importância da formação do corpo docente

Esta é uma das questões mais importantes para o sucesso do projeto, já que o aspecto mais importante em qualquer projeto é o fator humano. É uma realidade que uma altíssima porcentagem dos docentes na Espanha não estão familiarizados com esse tipo de metodologia em ambientes de trabalho digitais. Por isso é normal que diante do desconhecido, a recusa possa ser uma das respostas. Não é uma recusa arbitrária ou teimosa. Trata-se de algo natural perante do que se desconhece e que, portanto, se torna uma ameaça. Ameaça contra um saber fazer assentado durante muitos anos e com bons resultados com os alunos.

Não se trata de impor algo que não se encaixa, sem domínio ou conhecimento; é, na verdade, uma questão de formação em uma nova metodologia de trabalho com os alunos, donde o dispositivo sequer é a parte mais importante.

Não é tanto o dispositivo, que deve ser dominado, mas sim o bom uso que pode ser feito do ambiente e dos aplicativos sustentados por ele. É uma mudança metodológica na qual, a pesar de que a aula magistral deve continuar existindo, o papel do professor aumenta a sua ação como facilitador ou ajudante para que o aluno seja protagonista ativo do seu próprio aprendizado.

É uma formação metodológica. O docente está inclinado, de forma natural, a ensinar da mesma maneira como foi ensinado e ele. Vencer essa inércia e sair da zona de conforto onde se está há anos não é fácil.

Em primeiro lugar, é necessário demonstrar que o caminho que queremos começar é beneficioso para o processo de ensino e aprendizagem; e, em segundo lugar, devemos fornecer aos docentes as ferramentas e formação necessárias para executar essa mudança de paradigma de forma gradual, progressiva e sem traumas.

Apesar de que a aula magistral continua a ter (como não poderia ser de outra forma) sentido, devemos abrir espaço a metodologias que incluam o trabalho cooperativo em sala, a aprendizagem invertida, o trabalho por projetos, a aprendizagem por descoberta, a autonomia do aluno, o processo de avaliação formativa, e não somente finalista, a cotutoria, a coavaliação, o papel da criatividade e a experimentação, o uso de laboratórios, maquetes e simuladores, a criação dos próprios portfólios por parte dos alunos através dos quais eles possam se apropriar das unidades didáticas, etc.

Por isso é necessária uma formação inicial intensa (não vamos enganar ninguém dizendo que é fácil) e uma formação permanente, porque nesse tipo de ambientes a formação não pode parar.

Depois da experiência nesses últimos anos, acreditamos que é essencial que a formação seja ministrada por docentes que façam uso dessas ferramentas e ambientes no dia a dia, e aproveitarmos as boas práticas desenvolvidas pelos docentes do próprio centro.

5. Avaliação e acompanhamento permanente (professores, alunos, famílias)

Nenhum projeto acaba quando começa, quando é entregue, muito menos na educação. O Projeto de Inovação é concebido como um projeto vivo e com vida própria, que evolui e se adapta às diferentes circunstâncias (basta pensar nesta situação de pandemia) com a finalidade de conseguir o objetivo almejado.

Por isso, exige uma avaliação e acompanhamento constantes e em todos os níveis. Para formalizar o acompanhamento e avaliação foi criada uma Equipe de Acompanhamento do Projeto de Inovação da qual participam pessoas com capacidade executiva e conhecimentos pedagógicos, econômicos e tecnológicos para uma avaliação efetiva.

É fundamental como ferramenta de avaliação, além das entrevistas a alunos, famílias e docentes, a observação direta em sala de aula.

6. Reestruturação da sala de aula como espaço de trabalho e aprendizagem ativa

A nova metodologia rompe com o espaço tradicional da sala de aula e a sua disposição de carteiras em filas enquanto o professor fica em sua mesa de trabalho.

As carteiras ficam dispostas formando grupos de trabalho cooperativo em grupos de três ou quatro alunos. Com essa distribuição, cada grupo de trabalho colabora de forma permanente na tarefa educativa de seus componentes, seguindo os papéis de cooperação atribuídos (supervisor, coordenador, responsável pelo material e porta-voz). Papéis e grupos que vão mudando a cada trimestre ou conforme for conveniente para a dinâmica de trabalho ou idade dos alunos.

O docente deixa de estar preso à lousa ou à sua mesa e desenvolve a sua tarefa na sala de aula em torno dos diferentes grupos, supervisionando e facilitando o trabalho de cada um deles. Devemos lembrar que o que estamos priorizando é a atividade constante dos alunos em sala e sua supervisão por parte do docente, que é um facilitador, mas que permite que o próprio aluno seja protagonista de sua própria aprendizagem em vez de um mero receptor.

7. LMS: Ambiente de trabalho compartilhado e colaborativo

Um dos principais pontos fortes exigidos e obtidos com o ecossistema digital é contar com um excelente sistema de trabalho colaborativo e compartilhado. Nele, tanto os docentes quanto os alunos podem colocar em prática o trabalho em grupo de forma realmente colaborativa, baseada em papéis e responsabilidades. O LMS, ou sistema de gestão de aprendizagem virtual, é um dos pilares fundamentais do ambiente de trabalho; de fato, é o ambiente de trabalho com maiúsculas, porque assegura que o ciclo de vida de uma tarefa, exercício ou prova ocorra de forma otimizada e frutífera. Além de garantir o acesso adequado aos conteúdos de cada matéria.

8. Caderno de sala de aula

Existiu desde o princípio do projeto a preocupação com os processos de lectoescrita e que a inserção de dispositivos móveis não implique em um detrimento deles com o consequente prejuízo para os alunos. Tais processos são e serão sempre fundamentais na formação das capacidades intelectuais dos alunos em todos os níveis. A relação entre pensamento e linguagem, além da habilidade no uso da linguagem, são a base de toda aprendizagem. Por isso, no projeto, e ainda mais diante da ausência de livros de texto, o caderno de sala passa a ter uma importância fundamental em todos os níveis.

COROLÁRIO

Nessas breves linhas, tentei esboçar nossa experiência na aplicação das TIC à educação. Não somos pioneiros, sequer especialistas, mas tentamos dotar de bom senso tudo que fazemos, sabendo que é o melhor caminho para obter bons resultados de algo tão delicado e tão importante como a educação de crianças e adolescentes.

Continuaremos avaliando, trabalhando e avaliando mais uma vez, já que se há algo que caracteriza esse tipo de projetos é que eles são vivos, e que se pararmos, a realidade vai nos atropelar.